terça-feira, 31 de julho de 2007

TROPICÁLIA MERCADO LIVRE.

É fato corrente, previsível e freqüente quando o assunto em rodas de discussão é o movimento tropicalista os seus expoentes serem referidos pela alcunha e o caráter de vendidos ao sistema, oportunistas e corruptos, verdade ou não, este aspecto não afeta o valor e a intensidade do que foi proposto e praticado. Intensidade esta que, mesmo com algum desgaste, continua ainda intacta, pois qualquer obra que atravesse gerações dispõe de uma abundância de sutilezas e engenhosidades a serem ainda identificadas e com isso reavivadas em grau de interesse e atrativo.
A coisa se polariza em grupos, alguns jovens e outros já veteranos, que cultuam cegamente os valores disseminados por estes artistas e outros que se vangloriam em rejeitar os princípios apresentados pelos cabeças do movimento. Eu, pessoalmente, não me incluo em nenhum destes grupos, me interessam apenas a qualidade dos fatos e os ensinamentos que disto podem ser tirados.
Os tropicalistas foram revolucionários e se venderam por óbvias questões de sobrevivência, não foram guerrilheiros, não pegaram em armas, apenas utilizaram alguns signos referentes aos valores da causa revolucionária, seu campo de batalha foi o sistema de comunicação da época e a missão foi disseminar estas informações com apuro estético somado a urgência que a causa refletia. Muitos confundem e misturam os atributos dos artistas com os dos guerrilheiros que viviam na clandestinidade, eram realidades distintas, compartilhavam do mesmo conteúdo e a utilização dessas formas também foi distinta. A esquerda cultural e "festiva" foi uma coisa e a esquerda revolucionária armada foi outra e cada um participou nessas vertentes dentro de suas capacidades pois conheciam seu lugar. Quem teorizou, estabeleceu marcos e ainda se divertiu pode-se considerar satisfeito e quem levou tudo às últimas conseqüências, lutou, foi perseguido e preso também deve se considerar de alguma forma satisfeito pela corajosa experiência. Se alguns tropicalistas se venderam, então até nisso foram vanguarda, pois anteciparam o foco da realidade cultural/social de hoje, cujos valores são os da boa adequação ao sistema pois a sociedade já absorveu todas as porradas do passado e opera sistematicamente esvaziando e neutralizando qualquer expressão de conteúdo voraz e ofensivo transformando tudo em produto e isso os tropicalistas vislumbraram há exatos quarenta anos atrás.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Orenas e antelhas.

As orelhas são antenas, captam mais que os olhos. Uma imagem pode valer mais do que mil palavras, mas um som, um ruído, pode valer mais que mil palavras e imagens juntas. A luz pode viajar mais rápido que o som no universo, mas só o som pode ser melhor definido e interpretado. Os cães captam vibrações sonoras imperceptíveis pelo homem, já os gatos parecem as vezes enxergar o que não vemos, mas isto foi cientificamente comprovado como um aspecto ilusório, ou seja os felinos tem alucinações!! Já os cães...

O ser humano e a irrealidade.

Eu acho que o ser humano não existe, tudo que vivenciamos é resultado de pequenos aspectos, definições e interpretações pessoais que são projetadas em um universo de dimensões ilusórias. O homem olha para um espelho e não ao redor. Já observou uma formiga em seu trajeto? Ela passa pelo chão sobe um muro depois torna a descer e segue pelo mesmo chão, sobe outra parede até o teto e segue em seu mundo de ponta cabeça sem sofrer diretamente a ação da lei da gravidade. A formiga adere ao muro, não sobe nem desce, sua rota é contínua, não há em cima nem em baixo, apenas uma sucessão de caminhos no qual se adapta e percorre com uma lógica admirável, algo que para nós seria impossível percorrer se de uma hora para outra fossemos reduzidos um tamanho minúsculo semelhante. Estaríamos em uma estranha dimensão, nossas definições acerca de tempo e espaço de nada valeriam nestas condições. Por isso a condição humana me parece ilusória, não por esta não existir, mas por simplesmente não ser a única, pois há uma realidade de caráter biológico e não sobrenatural - o que é pior pois não é fruto da imaginação - que mal podemos enxergar, quanto mais vivenciar.

Sampler, remix, citação e apropriação artística.

O sampler é um aparelho que converte trechos sonoros em sinais digitais e reproduz tais sonoridades com total fidelidade aos timbres originais bem como a sua dinâmica. Ao longo dos anos, sua evolução e difusão atingiu um grau considerável a ponto de tornar-se indispensável na produção de trilhas-sonoras e trabalhos musicais no qual os resultados não apresentam mais os limites de tempos atrás. O remix ou remixagem é a desconstrução de um tema para desenvolver significados múltiplos. São aplicações técnicas que visam a manipulação para otimizar e revelar os potenciais ocultos de uma música, mas para que surta efeito, esta deve ser conhecida do público. Originalmente o recurso foi seriamente aplicado na era disco nos anos 70, ainda sem a existência dos samplers, para prolongar a duração de um hit numa pista de dança e com o avanço das tecnologias de gravação as facilidades se desdobraram. Hoje a manipulação de trechos de canções tornou-se o principal meio de produção e criação musical. É necessário dispor de um bom leque de informações acerca da cultura pop para se produzir algo que capte a atenção dos ouvintes. Uma canção bem manipulada torna-se uma criação quase que dissociada de sua origem mesmo apresentando sinais gritantes e fundamentais de parentesco.
A despeito das frequentes discussões acerca dos direitos autorais e aos questionamentos sobre os potenciais criativos alheios, o cenário da música pop mundial está abarrotado de reciclagens, colagens, plágios, citações livres, homenagens e diversas formas de malandragem musical. Com isso, a absorção e a mistura de um gênero com ritmos diversos que resulta em estilos completamente diferentes tem sido a orientação natural nos últimos vinte anos.
No passado a coisa era um pouco diferente, há cerca de setenta, oitenta anos atrás, as orquestras populares dominavam o espaço do entretenimento e os cantores ou crooners personalizavam as criações de compositores em suas interpretações. As funções e atuações da cada um eram bem delimitadas. O cantor era o intérprete e o músico era o compositor e/ou executor da obra. Posteriormente com o estouro do Elvis Presley e mais adiante a mega explosão dos Beatles as diferenças que existiam entre os gêneros musicais de teatro e de dança de salão desapareceram . A semente dessa revolução foi o blues, com suas formas simplórias e intimistas de dois acordes e um conteúdo incrivelmente emocional e auto referente que acabou por influenciar uma geração de músicos que nada tinham a ver com aquela realidade que o blues abordava. O jazz já representava uma ponte entre o erudito e a música negra, entre a técnica apurada e o feeling, mas o momento em que o mínimo de conhecimento virou sinônimo de maior aproveitamento foi com o cruzamento do country e do blues e consequentemente as pedras não pararam mais de rolar. Embora apresentem um certo esgotamento criativo os aspectos da música de hoje são os mais diversos possíveis, mas podem ser bem observados e definidos em seu campo de visão e atuação, uma diversificada série de expressões antropofágicas, comunitárias, predatórias, autofágicas, a cópia, da cópia, da cópia, que copiou a que parecia original, tudo efêmero, tudo pelo fogo sagrado de uma originalidade impossível, parece a descrição dos modos de alguma civilização primitiva e não algo pertencente ao mundo moderno que vivemos, talvez um mero reflexo dessa era liberal, competitiva, da satisfação imediata e do êxito a qualquer preço. Antes de tudo, o fundamental é saber utilizar a informação musical ou literária que você tem nas mãos e que hoje em dia custa pouco, menos do que há quarenta anos atrás. Sintonize a sua parabólica mental e mãos à obra.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Black'n'Blue

Nunca me senti tão triste e confuso em toda a minha vida, não é exagero, talvez até seja, mas o exagero é o sopro da ruptura na expulsão da amargura. A tristeza tem o peso da Terra e obedece a lei da gravidade. Não se agarre à melancolia, não há nada de bom em algo que impede a luz do dia.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Alienação do homem moderno.

O título acrescido eu tirei de um "clássico punk" da banda paulista Psycóze de 1982, http://homepages.nyu.edu/~cch223/comps/sub.html mas o texto que segue é do cronista Fausto Wolff que extraí do blog http://blog0news.blogspot.com/ e coincide justamente com os versos que acabei de escrever logo abaixo.

Venho sendo alienado pela realidade. Embora nenhum homem seja uma ilha, lentamente estou me transformando numa. Claro que não vou enlouquecer no sentido convencional do verbo: sair pelado por aí­ jogando pedras nos automóveis e conversando com as moscas. Como o personagem central do meu romance "O Campo de Batalha Sou Eu" continuarei saindo de casa - duas doses generosas de uisque no bucho - usando minha máscara de javali para proteger-me dos javalis e distribuindo sorrisos, "como vais?" e "muito prazeres" mas há anos que sei: As coisas estão erradas. A crueldade dos ricos e a ignorância dos pobres - que os tornam presas fáceis e criminosos fadados à morte violenta - estão levando a sociedade ao suicídio.

- Fausto Wolff (Tentando Respirar Apesar da Avalanche!)
site oficial do jornalista e escritor que foi um dos editores do finado Pasquim: http://www.olobo.net/