terça-feira, 17 de julho de 2007

Sampler, remix, citação e apropriação artística.

O sampler é um aparelho que converte trechos sonoros em sinais digitais e reproduz tais sonoridades com total fidelidade aos timbres originais bem como a sua dinâmica. Ao longo dos anos, sua evolução e difusão atingiu um grau considerável a ponto de tornar-se indispensável na produção de trilhas-sonoras e trabalhos musicais no qual os resultados não apresentam mais os limites de tempos atrás. O remix ou remixagem é a desconstrução de um tema para desenvolver significados múltiplos. São aplicações técnicas que visam a manipulação para otimizar e revelar os potenciais ocultos de uma música, mas para que surta efeito, esta deve ser conhecida do público. Originalmente o recurso foi seriamente aplicado na era disco nos anos 70, ainda sem a existência dos samplers, para prolongar a duração de um hit numa pista de dança e com o avanço das tecnologias de gravação as facilidades se desdobraram. Hoje a manipulação de trechos de canções tornou-se o principal meio de produção e criação musical. É necessário dispor de um bom leque de informações acerca da cultura pop para se produzir algo que capte a atenção dos ouvintes. Uma canção bem manipulada torna-se uma criação quase que dissociada de sua origem mesmo apresentando sinais gritantes e fundamentais de parentesco.
A despeito das frequentes discussões acerca dos direitos autorais e aos questionamentos sobre os potenciais criativos alheios, o cenário da música pop mundial está abarrotado de reciclagens, colagens, plágios, citações livres, homenagens e diversas formas de malandragem musical. Com isso, a absorção e a mistura de um gênero com ritmos diversos que resulta em estilos completamente diferentes tem sido a orientação natural nos últimos vinte anos.
No passado a coisa era um pouco diferente, há cerca de setenta, oitenta anos atrás, as orquestras populares dominavam o espaço do entretenimento e os cantores ou crooners personalizavam as criações de compositores em suas interpretações. As funções e atuações da cada um eram bem delimitadas. O cantor era o intérprete e o músico era o compositor e/ou executor da obra. Posteriormente com o estouro do Elvis Presley e mais adiante a mega explosão dos Beatles as diferenças que existiam entre os gêneros musicais de teatro e de dança de salão desapareceram . A semente dessa revolução foi o blues, com suas formas simplórias e intimistas de dois acordes e um conteúdo incrivelmente emocional e auto referente que acabou por influenciar uma geração de músicos que nada tinham a ver com aquela realidade que o blues abordava. O jazz já representava uma ponte entre o erudito e a música negra, entre a técnica apurada e o feeling, mas o momento em que o mínimo de conhecimento virou sinônimo de maior aproveitamento foi com o cruzamento do country e do blues e consequentemente as pedras não pararam mais de rolar. Embora apresentem um certo esgotamento criativo os aspectos da música de hoje são os mais diversos possíveis, mas podem ser bem observados e definidos em seu campo de visão e atuação, uma diversificada série de expressões antropofágicas, comunitárias, predatórias, autofágicas, a cópia, da cópia, da cópia, que copiou a que parecia original, tudo efêmero, tudo pelo fogo sagrado de uma originalidade impossível, parece a descrição dos modos de alguma civilização primitiva e não algo pertencente ao mundo moderno que vivemos, talvez um mero reflexo dessa era liberal, competitiva, da satisfação imediata e do êxito a qualquer preço. Antes de tudo, o fundamental é saber utilizar a informação musical ou literária que você tem nas mãos e que hoje em dia custa pouco, menos do que há quarenta anos atrás. Sintonize a sua parabólica mental e mãos à obra.

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