quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Lavou Tá Novo

Lavou tá novo e lá vamos nós de novo...
Terceiro milênio do calendário cristão, oito (mil) anos de guerra e tensões no oriente-médio, bombas, bombas e mais bombas no berço da civilização. E por aqui na aldeia, permeia o velho populismo de direita amalgamado com ideologias de uma histórica retórica de esquerda no país de todos. Uma queda brusca na pressão sangüinea do grande ciclope financeiro sinaliza uma nova recessão econômica no horizonte, tédio e monotonia, um imenso abismo existencial entre aqueles que procuram por algo significativo e os que estão aqui no mundo Casa & Vídeo- mouse-joystick a passeio. Mundo esse em que, cabeças de heróis e anti-heróis estão expostas em praça pública. O que fazer quando há mais de dez anos, a imagem de Che Guevara disputa visibilidade no cenário com a Coca Cola?
Minha idéia de cultivar uma existência repleta, sagaz de aventuras e conquistas passa pela convicção com que o cantor Raul Seixas aplicou em sua breve e intensa passagem pela vida. Estou longe de ser um desses fãs típicos do cowboy fora da lei da sociedade alternativa que só sabem gritar “toca Raul”, “toca Raul” em casamentos, batizados ou velórios. O que acontece é que quando ouço ou reflito sobre suas idéias sinto-me o protagonista de algo definitivamente fora do normal, capaz de ultrapassar os limites do dia a dia para além da mediocridade e da rotina, efeito prolongado do quebra-quebra conceitual que o cara promoveu há mais de trinta anos atrás e que até hoje reverbera a ponto de tornar-se um culto e só se compara ao levante revolucionário dos punks paulistas no início da década de oitenta. De lá pra cá todos nós perdemos a inocência, a realidade lixou todo o verniz das ilusões e ofuscou qualquer vislumbre pretensamente visionário com essa sobrecarga de imagens, sons e informações que visa a estagnação. Mas então o que fazer com essa faísca insistente? Não quero perder o bonde da história, nem ficar a ver navios deixando a existência escoar ralo abaixo. Consumidores eleitores andróides masculinos e femininos, obedecem programadamente ao pé da letra tudo o que captam na TV e saem à cata de lixo profuso e prolixo. Paranóicos anormais, psicopatas débeis mentais se rendem e caem sem pára-quedas nos braços da mais furiosa e amaldiçoada fama, não sem antes deflagrarem seu ímpeto anti-social impulsionado pelos implacáveis e espetaculares noticiários da crônica policial. A massa excluída de mortos-vivos segue sedenta de sangue e miolos que não aplacam a fome e o infortúnio de não reconhecerem a si próprios e nem a sua lamentável condição de vida.
Há muita brasa e carvão ainda para queimar nessa imensa churrasqueira sul americana chamada Brasil. O estoque de geladas está longe de chegar ao fim. O carnaval da recessão será como sempre, antropofágico e por fim autofágico, em uma terra de cegos, aonde quem tem um olho é rei com direito a cetro mágico. No presente, sempre haverá muito o que aprender com Raul Seixas, seguido de Júlio Barroso, Jorge Mautner, Mano Brown, Glauber Rocha, Chico Science, Luis Carlos Maciel, José Agrippino de Paula, Darcy Ribeiro, Zé do Caixão e tantos e tantos outros que valem uma jornada de descoberta única, pessoal e intransferível. Pessoas que projetam o seu modo de pensar para a realidade, que idealizam e praticam revoluções e evoluções diárias sem prazo de vencimento, não importa o que digam, o passado não está morto, apenas passou, lavou tá novo e lá vamos nós de novo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Paulo,

meu nome é vinícius. sou amigo do toninho vaz, do solda e da tua irmã estrela, que fez pequena orelha pro meu livreco. parabéns pelo blog. tenho um também: www.lesma-lerda.blogspot.com (com aviso de conteúdo, veja só). gostaria de trocar figurinhas contigo. se quiseres meu livreco manda mail pra viniedi@gmail.com, farô.

abraço

vinícius

Anônimo disse...

Vini, Tentei colocar o link do seu blog mas não está visível...não sei porque, mas aqui vai
www.lesma-lerda.blogspot.com

Anônimo disse...

E aí, Paulo, beleza? Linquei teu blogue. Gostei das crônicas. Voltarei mais. Grande abraço, Rodrigo.

Cosmunicando disse...

muito bom! ... tudo novo, de novo.